Trabalhei aqui em Santa Maria por quase dois anos como delegada substituta da Delegacia de Proteção ao Idoso, período no qual tive contato com um grande número de casos de idosos que padeciam de violência, substancialmente doméstica, principalmente maus-tratos, exploração econômica, abandono material e, principalmente, emocional.
A grande maioria dos casos envolvendo idosos circundava sob o âmbito da violência doméstica e, assim, atingia todas as camadas sociais. Entretanto, tantas vezes, sobre os fatos que chegam à delegacia, não havia um crime a investigar, mas era simples, ou melhor, complexamente uma situação de abandono emocional, de "descarte" de um ser humano que foi a origem do autor do "descarte". As pessoas nascem, crescem e envelhecem. A nossa sociedade com sua modernidade líquida, como diria Zgymunt Bauman, não se preparou para a terceira fase do ser humano: o envelhecimento.
Embora seja cronologicamente normal a todo ser vivo crescer e envelhecer, aliás se começa a envelhecer desde o dia que se nasce, afinal não somos Benjamin Button, lembram do filme, que tinha como ator principal Brad Pitt, que nasceu velho e à medida que o tempo passava ele ia rejuvenescendo? Pois é, assim sendo, falta também aqui educação a todos, para que respeitem e valorizem as pessoas que naturalmente vão envelhecendo, o destino de todo ser humano, a não ser que por uma fatalidade venha a falecer antes.
Mas a situação de abandono na terceira idade é muito comum e ocorre no mundo todo, consideradas as necessárias proporções sócio-econômico-culturais. Ano passado, foi notícia na Espanha o encontro de uma idosa mumificada, morta há pelo menos quatro anos e que ninguém deu falta, nem a família, nem os vizinhos. Idosos são abandonados sozinhos em casas, são abandonados mesmo residindo com a família, são abandonados em casas de repousos, enfim, a solidão os atinge e traz consequências graves à saúde física e mental.
Segundo a última pesquisa do IBGE, divulgada em 2017, o Brasil tem mais de 30 milhões de pessoas acima de 60 anos de idade. Devido à qualidade de vida, a expectativa de vida do brasileiro é hoje de 75,8 anos.
Dessa forma, o que interessa e deve ficar a todos é que envelhecemos e devemos tratar os idosos com o respeito a que merecem e é digno de todo ser humano, com paciência, com carinho. Mas podemos dispensar o tratamento de "vô ou vó" ou falar no diminutivo, como se faz com crianças, isso porque não são avós de todos nem crianças. Ainda, como tratamos nossos pais hoje seremos tratados por nosso filhos amanhã. Por fim, encerro com Emile Durkheim:
"A educação é uma socialização da jovem geração pela geração adulta".